RESPONDENDO QUESTÕES: UNEB 2010
TEXTO DAS QUESTÕES 01 E 02
Foi bom reler Sartre*, que anda meio fora da moda. Suas recordações de infância estão reunidas num pequeno livro grande: “As palavras”. Não lembra Renan com suas reminiscências da juventude. Lembra o próprio Sartre. A parte episódica, a anedota de sua infância — toda a infância termina numa anedota às vezes dramática — não é novidade.
De uma forma geral, as infâncias se parecem. Lendo suas recordações, insensivelmente me lembrei 10 de outras infâncias: a de José Lins do Rego, em “Menino de Engenho”; a de Raul Pompeia, a de Dickens, a de Chaplin, a de Hardy — a criança diante da vida é uma constante de medo, encantamento e velhacaria.
Sartre não fez exceção à regra. E, para aqueles 15 que conhecem seus romances, esse lado episódico de sua infância é ocioso: sente-se, em sua obra adulta, o menino que o autor teria sido.[…] Periodicamente, volto ao livro, nem sei por quê.
Dessa vez, reparei e guardei uma confissão singela e importante de Sartre quanto às suas leituras. Ao contrário de muitos autores que, em sua maturidade, repudiam e tripudiam sobre as suas primeiras leituras, Sartre não apenas confessa essas leituras, mas defende-as com lucidez e inteligência. Não apenas com o tempero da saudade de si mesmo.
CONY, Carlos Heitor. O herói e a lágrima. Folha de S. Paulo, São Paulo, 4 set. 2009. ilustrada, p. E 14.
Jean Paul Sartre (1905-1980) — escritor, crítico e filósofo do existencialismo francês. Prêmio Nobel de literatura em 1964.
QUESTÃO 01: Com base no texto, está correto o que se afirma em
- O texto, em sua totalidade, é tecido a partir dos discursos de Sartre e Renan, contrapondo suas ideias.
- A avaliação contida em “às vezes dramática” (l. 6-7) traz uma referência direta à infância do articulista.
- O livro “As palavras” (l. 3), segundo Cony, é uma narrativa de denúncia social.
- A expressão “pequeno livro grande” (l. 3) apresenta um processo de adjetivação do nome em que aspectos qualitativos — intelectivo e afetivo — estão presentes.
- A frase “Foi bom reler Sartre, que anda meio fora da moda.” (l. 1), sem alterar a sua semântica, pode ser reescrita como Foi bom reler Sartre, o que anda meio fora da moda.
O processo de adjetivação ocorre quando o adjetivo toma o lugar de um substantivo. Na frase “Aquele homem jovem ganhou a partida”, o adjetivo jovem se torna um substantivo e atua como um núcleo da oração por acompanhar a palavra homem. Na frase “Os azuis são os melhores jogadores”, a palavra azuis não é empregada como um adjetivo, mas sim como um substantivo. Assim, quando autor usa a expressão “pequeno livro grande” ele recorre a esse processo para dizer que o livro além de grandioso intelectualmente, também é pequeno de forma afetuosa.
QUESTÃO 02: Sobre o texto, é correto afirmar:
- O fragmento “Lendo suas recordações” (l. 9) constitui uma explicação para o que o enunciador expõe a seguir, na frase.
- A afirmação “a criança diante da vida é uma constante de medo, encantamento e velhacaria.” (l. 12-13) sintetiza o preconceito do enunciador contra livros de memórias.
- A forma verbal “teria sido” (l. 17) exprime uma ideia de probabilidade no passado
- O período “Periodicamente, volto ao livro, nem sei por quê.” (l. 18) é revelador da insegurança do enunciador em relação aos seus objetivos de vida.
- O fragmento “Sartre não apenas confessa essas leituras, mas defende-as com lucidez e inteligência.” (l. 23-24) é constituído de duas afirmações que se contradizem.
O modo subjuntivo é empregado em orações subordinadas quando essas expressam sentimento, hipótese, probabilidade ou incerteza. Quando o autor diz “sente-se, em sua obra adulta, o menino que o autor teria sido.” ela não nos dá uma certeza e sim uma possibilidade, se ele tivesse certeza ele diria “o menino que o autor foi”
QUESTÃO 03
A população com 12 anos ou mais de estudo, entre 1995 e 2005, praticamente dobrou e a frequência ao ensino superior neste período quase triplicou. Esse aumento ocorreu particularmente na população feminina, que atualmente é maioria nas universidades e corresponde a 56,1% da população com 12 anos ou mais de estudo. No entanto, é nesse grupo de maior escolaridade que a desigualdade de rendimento entre homens e mulheres é elevada.
A população masculina ocupada, com 12 anos ou mais de estudo, está distribuída entre os seguintes grupamentos de atividades: indústria (15,8%), comércio e reparação (15,6%), educação, saúde e serviços sociais (16,8%) e outras atividades (22,3%). No caso das mulheres com esse nível de escolaridade, 44,9% estão no grupamento de educação, saúde e serviços sociais. Em resumo, as mulheres estão predominantemente no setor de serviços, em atividades relacionadas ao cuidado, em áreas que poderiam ser consideradas extensões das atribuições familiares e domésticas.
Independentemente da maior escolaridade das mulheres, a inserção delas em “nichos” ocupacionais tipicamente femininos faz com que ganhem menos que os homens, o que explica, em parte, a desigualdade de rendimento por sexo.
FIGUEIRA, Mara. Retrato de um mundo desigual. Sociologia: ciência da vida, São Paulo: Escala, ano 1, n. 6, p. 14, 2007.
Ao mencionar os índices da pesquisa do IBGE no texto, a articulista evidencia que
- as mudanças culturais no âmbito familiar são ainda insignificantes.
- o preconceito contra as mulheres persiste, mesmo no ensino superior.
- o espaço feminino, no ensino superior, traduz uma mudança do papel tradicional do gênero na sociedade.
- o fato de as mulheres não brancas terem salários mais baixos que as mulheres brancas é devido à diferença de nível cultural.
- homens e mulheres se encontram em condições de igualdade no mercado de trabalho voltado para a prestação de serviços.
É importante observar que a autora não fala em preconceito, muito menos em questões raciais, devido a isso tanto a alternativa 02 como 04 estão erradas. Além disso, não é insignificante que as mulheres atualmente sejam a maioria no ensino superior tendo vista a desigualdade de gênero que assola nosso país, por esse motivo a questão 03 é a correta.
TEXTO DAS QUESTÕES 04 E 05
No Brasil, como em outras sociedades, há uma classificação dos eventos sociais segundo sua ocorrência. Os eventos que fazem parte da rotina do quotidiano, chamado no Brasil de “dia a dia” ou simplesmente “vida”, e os eventos que estão situados fora desse “dia a dia” repetitivo e rotineiro: as “festas”, os “cerimoniais” (ou cerimônias), as “solenidades”, os “bailes”, os “congressos”, as “reuniões”, os “encontros”, as “conferências”, etc., onde se chama a atenção para seu caráter aglutinador de pessoas, grupos e categorias sociais, sendo, por isso mesmo, acontecimentos que escapam da rotina na vida diária. Tais eventos distinguem-se dos “milagres”, “golpes de sorte”, “tragédias”, “dramas”, “desastres”, “acidentes” e “catástrofes” por serem previstos. Nesse sentido, eles se constituem o que pode ser chamado de extraordinário construído pela e para a sociedade, em oposição aos acontecimentos que igualmente suspendem a rotina do quotidiano, mas são marcados pela imprevisibilidade, ou seja, são acontecimentos não controlados pela sociedade.
DAMATTA, Roberto. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1990. p. 39.
QUESTÃO 4: Os “eventos” referidos no texto têm em comum o fato de
- fazerem parte do cotidiano da cidade.
- serem extraordinários, fora da rotina.
- acontecerem com o consentimento do poder público.
- refutarem a intervenção da sociedade em sua orientação.
- propiciarem a interação de indivíduos que representam a diversidade sociocultural.
Os eventos que o autor descreve englobam tanto aqueles que os humanos podem prever e organizar como os bailes, reuniões e festas, como também os milagres e desastres, que os humanos não controlam. O que ambos tem em comum é o fato de não serem cotidianos, ou seja, são extraordinários.
QUESTÃO 5: Sobre o termo transcrito, está correto o que se afirma em
- “como” (l. 1) exprime uma ideia de conformidade.
- “segundo” (l. 2) indica uma ordem sequencial.
- “vida” (l. 5) sintetiza as ideias expressas por “rotina do quotidiano” (l. 4) e “dia a dia” (l. 4).
- “seu” (l. 10) e “eles” (l. 15) retomam referentes paradoxais.
- “ou seja” (l. 20) antecede uma retificação.
O autor usa como sinônimo as expressões citadas para explicar o cotidiano das pessoas e diferenciar isso dos eventos.
QUESTÃO 6
Os textos apresentados fazem parte do livro “O Brasil das placas — viagem por um país ao pé da letra”, de José Eduardo Camargo e L. Soares. Cada placa está acompanhada de um cordel. A alternativa em que se faz uma análise correta sobre a linguagem da placa e/ou do cordel é a
- A linguagem do cordel refere-se, com humor, à ambiguidade da linguagem da placa.
- A placa apresenta uma linguagem sintética e precisa, enquanto o cordel constitui um discurso prolixo e sem clareza.
- Os textos são gramaticalmente corretos, pois estão redigidos na norma padrão da língua portuguesa.
- Os dois textos constituem discursos preconceituosos contra pessoas com necessidades especiais.
- A leitura da placa feita pelo cordelista revela o seu preconceito contra a linguagem publicitária.
A placa é ambígua por admite mais de uma forma de interpreta-la, tanto que a família era muda (não falavam), tando que a família estava se mudando e devido a isso estava vendo suas coisas e o cordel brinca com isso apostando no mesmo provável.
TEXTO DAS QUESTÕES 7 E 8
QUESTÃO 7: O texto constitui um discurso que
- mostra um impasse na lógica apresentada para o uso do plástico no mercado.
- mascara os benefícios sociais do plástico, apresentando uma lógica falsa para o seu uso comercial.
- visa a um fim didático, atravessado de uma intenção pedagógica, em defesa do uso de embalagens plásticas.
- constrói uma visão, um sentido particular do plástico, com ênfase em suas consequências perversas para a natureza.
- procura influenciar o comportamento do indivíduo que vive em sociedade, dotando-o de regras disciplinares e de comportamento solidário.
A propaganda procura mostrar os benefícios do plástico demostrando suas utilidades para nossas vidas, enfatiza para tanto que o plástico não é o vilão e sim o seu uso incorreto.
QUESTÃO 8: “Se você fica irritado quando vê uma sacola plástica num bueiro, é porque não sabe como a gente fica.”
O trecho apresenta
- a avaliação de um comportamento e as evidências de suas causas
- uma certeza da qual se apropria o enunciador, como se estivesse aderindo a uma verdade universal.
- uma crítica a um espaço deformado por diferentes atores sociais, entre os quais o próprio enunciador.
- uma ponderação sobre um modelo de comportamento social produto de um contexto sociocultural desfavorável.
- um acontecimento inesperado, que pode ser considerado improvável no contexto da vida social do enunciador.
No trecho o autor se demonstra contra a sacolas plásticas em bueiros, dizendo ficar mais do que irritado, o ato de jogar descartar sacolas incorretamente é o comportamento social produto de um contexto sociocultural desfavorável a que se refere o enunciado correto.
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