RESOLVENDO QUESTÕES – ENEM – LITERATURA

 

QUESTÃO 01 (ENEM 2018)

— Famigerado? […]

— Famigerado é “inóxio”, é “célebre”, “notório”, “notável”…

— Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?

— Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos…

— Pois… e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia de semana?

— Famigerado? Bem. É: “importante”, que merece louvor, respeito…

ROSA, G. Famigerado. In: Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

Nesse texto, a associação de vocábulos da língua portuguesa a determinados dias da semana remete ao

a) Local de origem dos interlocutores.

b) Estado emocional dos interlocutores.

c) Grau de coloquialidade da comunicação.

d) Nível de intimidade entre os interlocutores.

e) Conhecimento compartilhado na comunicação.

RESPOSTA

Por se tratar de uma comunicação informal, um dos interlocutores (cada uma das pessoas que participam de uma conversa, de um diálogo.) pede que se faça uso de palavras em um grau de coloquialidade (linguagem coloquial, informal, natural ou popular é uma linguagem utilizada no cotidiano em que não exige a atenção total da gramática, de modo que haja mais fluidez na comunicação oral.) Logo, a resposta é letra C.

QUESTÃO 02 (ENEM 2018)

Somente uns tufos secos de capim empedrados crescem na silenciosa baixada que se perde de vista. Somente uma árvore, grande e esgalhada mas com pouquíssimas folhas, abre-se em farrapos de sombra. Único ser nas cercanias, a mulher é magra, ossuda, seu rosto está lanhado de vento. Não se vê o cabelo, coberto por um pano desidratado. Mas seus olhos, a boca, a pele – tudo é de uma aridez sufocante. Ela está de pé. A seu lado está uma pedra. O sol explode.

Ela estava de pé no fim do mundo. Como se andasse para aquela baixada largando para trás suas noções de si mesma. Não tem retratos na memória. Desapossada e despojada, não se abate em autoacusações e remorsos. Vive. Sua sombra somente é que lhe faz companhia. Sua sombra, que se derrama em traços grossos na areia, é que adoça como um gesto a claridade esquelética. A mulher esvaziada emudece, se dessangra, se cristaliza, se mineraliza. Já é quase de pedra como a pedra a seu lado. Mas os traços de sua sombra caminham e, tornando-se mais longos e finos, esticam-se para os farrapos de sombra da ossatura da árvore, com os quais se enlaçam.

FRÓES, L. Vertigens: obra reunida. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Na apresentação da paisagem e da personagem, o narrador estabelece uma correlação de sentidos em que esses elementos se entrelaçam. Nesse processo, a condição humana configura-se

a) Amalgamada pelo processo comum de desertificação e de solidão.

b) Fortalecida pela adversidade extensiva à terra e aos seres vivos

c) Redimensionada pela intensidade da luz e da exuberância local.

d) Imersa num drama existencial de identidade e de origem.

e) Imobilizada pela escassez e pela opressão do ambiente.

RESPOSTA

No texto, a descrição da mulher “magra, ossuda, seu rosto lanhado de vento” imersa no ambiente desertificado, seco faz com que se afaste de sua condição humana, “largando para trás suas noções de si mesma”, aproximando-se e adquirindo traços do ambiente,“ já é quase pedra, como a pedra ao seu lado”. Esse entrelaçamento dos elementos é reforçado pelo enunciado e representado pela palavra “amalgamada” que significa unido, fundido, ligado, evidenciando a junção da mulher à natureza ao seu redor. Resposta: A

QUESTÃO 03 (ENEM 2015)

Aconteceu mais de uma vez: ele me abandonou. Como todos os outros. O quinto. A gente já estava junto há mais de um ano. Parecia que dessa vez seria para sempre. Mas não: ele desapareceu de repente, sem deixar rastro. Quando me dei conta, fiquei horas ligando sem parar – mas só chamava, chamava, e ninguém atendia. E então fiz o que precisava ser feito: bloqueei a linha. A verdade é que nenhum telefone celular me suporta. Já tentei de todas as marcas e operadoras, apenas para descobrir que eles são todos iguais: na primeira oportunidade, dão no pé. Esse último aproveitou que eu estava distraído e não desceu do táxi junto comigo. Ou será que ele já tinha pulado do meu bolso no momento em que eu embarcava no táxi? Tomara que sim. Depois de fazer o que me fez, quero mais é que ele tenha ido parar na sarjeta. […] Se ainda fossem embora do jeito que chegaram, tudo bem. […] Mas já sei o que vou fazer. No caminho da loja de celulares, vou passar numa papelaria. Pensando bem, nenhuma das minhas agendinhas de papel jamais me abandonou.

FREIRE, R. Começar de novo. O Estado de S. Paulo, 24 nov. 2006

Nesse fragmento, a fim de atrair a atenção do leitor e de estabelecer um fio condutor de sentido, o autor utiliza-se de

a) Primeira pessoa do singular para imprimir subjetividade ao relato de mais uma desilusão amorosa.

b) Ironia para tratar da relação com os celulares na era de produtos altamente descartáveis.

c) Frases feitas na apresentação de situações amorosas estereotipadas para construir a ambientação do texto.

d) Quebra de expectativa como estratégia argumentativa para ocultar informações.

e) Verbos no tempo pretérito para enfatizar uma aproximação com os fatos abordados ao longo do texto.

RESPOSTA

Com o propósito de despertar e prender a atenção do leitor, o autor utiliza frases estereotipadas, “ele me abandonou”, “parecia que dessa vez era para sempre”, próprias de um contexto amoroso, um amor não correspondido, quando, na verdade, se tratava de mais um celular perdido. Resposta: C

QUESTÃO 04 (ENEM 2018)

Vó Clarissa deixou cair os talheres no prato, fazendo a porcelana estalar. Joaquim, meu primo, continuava com o queixo suspenso, batendo com o garfo nos lábios, esperando a resposta. Beatriz ecoou a palavra como pergunta, “o que é lésbica?”. Eu fiquei muda. Joaquim sabia sobre mim e me entregaria para a vó e, mais tarde, para toda a família. Senti um calor letal subir pelo meu pescoço e me doer atrás das orelhas. Previ a cena: vó, a senhora é lésbica? Porque a Joana é. A vergonha estava na minha cara e me denunciava antes mesmo da delação. Apertei os olhos e contraí o peito, esperando o tiro. […] […] Pensei na naturalidade com que Taís e eu levávamos a nossa história. Pensei na minha insegurança de contar isso à minha família, pensei em todos os colegas e professores que já sabiam, fechei os olhos e vi a boca da minha vó e a boca da tia Carolina se tocando, apesar de todos os impedimentos. Eu quis saber mais, eu quis saber tudo, mas não consegui perguntar.

POLESSO, N. B. Vó, a senhora é lésbica? Amora. Porto Alegre: Não Editora, 2015 (fragmento)

A situação narrada revela uma tensão fundamentada na perspectiva do

a) Conflito com os interesses de poder.

b) Silêncio em nome do equilíbrio familiar.

c) Medo instaurado pelas ameaças de punição.

d) Choque imposto pela distância entre as gerações.

e) Apego aos protocolos de conduta segundo os gêneros.

RESPOSTA

A partir da menção, em uma refeição familiar, ao lesbianismo a tensão da narrativa instaura-se, fundamentada no receio da personagem em ser descoberta sua orientação sexual, “Joaquim sabia sobre mim e me entregaria para a vó e, mais tarde, para toda a família. Senti um calor leta subir pelo meu pescoço e me doer atrás das orelhas.”, e consequente a da sua Vó. Assim, em prol da estabilidade no ambiente familiar, ela opta por permanecer em silêncio Resposta: B



QUESTÃO 05 (ENEM 2015)

A pátria

Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!

Criança! não verás nenhum pais como este!

Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!

A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,

É um seio de mãe a transbordar carinhos.

Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,

Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!

Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!

Vê que grande extensão de matas, onde impera,

Fecunda e luminosa, a eterna primavera!

Boa terra! jamais negou a quem trabalha

O pão que mata a fome, o teto que agasalha…

Quem com o seu suor a fecunda e umedece,

Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!

Criança! não verás pais nenhum como este:

Imita na grandeza a terra em que nasceste!

BILAC, O. Poesias infantis. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1929.

Publicado em 1904, o poema A pátria harmoniza-se com um projeto ideológico em construção na Primeira República. O discurso poético de Olavo Bilac ecoa esse projeto, na medida em que

a) A paisagem natural ganha contornos surreais, como o projeto brasileiro de grandeza.

b) A prosperidade individual, como a exuberância da terra, independe de políticas de governo.

c) Os valores afetivos atribuídos à família devem ser aplicados também aos ícones nacionais.

d) A capacidade produtiva da terra garante ao país a riqueza que se verifica naquele momento.

e) A valorização do trabalhador passa a integrar o conceito de bem-estar social experimentado.

RESPOSTA

Sugere um patriotismo baseado na riqueza de nossa fauna e flora, “Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste! Criança! não verás nenhum país como este! Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!”, e a prosperidade do indivíduo, por meio do trabalho com a terra, que independem de medidas governamentais, “Quem com o seu suor a fecunda e umedece, Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!”. Resposta: B

É importante lembrar que o Olavo Bilac é um pota parnasiano!



QUESTÃO 06 (ENEM 2018)

O trabalho não era penoso: colar rótulos, meter vidros em caixas, etiquetá-las, selá-las, envolvê-las em papel celofane, branco, verde, azul, conforme o produto, separá-las em dúzias… Era fastidioso. Para passar mais rapidamente as oito horas havia o remédio: conversar. Era proibido, mas quem ia atrás de proibições? O patrão vinha? Vinha o encarregado do serviço? Calavam o bico, aplicavam-se ao trabalho. Mal viravam as costas, voltavam a taramelar. As mãos não paravam, as línguas não paravam. Nessas conversas intermináveis, de linguagem solta e assuntos crus, Leniza se completou. Isabela, Afonsina, Idália, Jurete, Deolinda – foram mestras. O mundo acabou de se desvendar. Leniza perdeu o tom ingênuo que ainda podia ter. Ganhou um jogar de corpo que convida, um quebrar de olhos que promete tudo, à toa, gratuitamente. Modificou-se o timbre de sua voz. Ficou mais quente. A própria inteligência se transformou. Tornou-se mais aguda, mais trepidante.

REBELO, M. A estrela sobe. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009.

O romance, de 1939, traz à cena tipos e situações que espelham o Rio de Janeiro daquela década. No fragmento, o narrador delineia esse contexto centrado no

a) Julgamento da mulher fora do espaço doméstico.

b) Relato sobre as condições de trabalho no Estado Novo.

c) Destaque a grupos populares na condição de protagonistas

d) Processo de inclusão do palavrão nos hábitos de linguagem.

e) Vínculo entre as transformações urbanas e os papéis femininos.

RESPOSTA

De acordo com o fragmento, é possível identificar a introdução da mulher no mercado de trabalho. O texto aborda a mudança do comportamento feminino, visto que anteriormente o contexto era do ambiente doméstico. Há a representação da expansão dos ambientes de trabalho, as fábricas, e a ocupação desses espaços pelas figuras femininas, aletrando seus papéis. Resposta: E


QUESTÃO 07 (ENEM 2018)


O grupo O Teatro Mágico apresenta composições autorais que têm referências estéticas do rock, do pop e da música folclórica brasileira. A originalidade dos seus shows tem relação com a ópera europeia do século XIX a partir da

a) Disposição cênica dos artistas no espaço teatral.

b) Integração de diversas linguagens artísticas.

c) Sobreposição entre música e texto literário.

d) Manutenção de um diálogo com o público.

e) Adoção de um enredo como fio condutor.

RESPOSTA

A partir das indicações e análise da imagem e do texto, percebemos a diversidade de linguagens que o Grupo teatral explora em seus shows “referências estéticas do rock, do pop e da música folclórica brasileira.”, trabalhando a música, letra, encenação, corpo e som. Resposta: B

QUESTÃO 08 (ENEM 2016)

A partida de trem Marcava seis horas da manhã. Angela Pralini pagou o táxi e pegou sua pequena valise. Dona Maria Rita de Alvarenga Chagas Souza Melo desceu do Opala da filha e encaminharam-se para os trilhos. A velha bem-vestida e com joias. Das rugas que a disfarçavam saía a forma pura de um nariz perdido na idade, e de uma boca que outrora devia ter sido cheia e sensível. Mas que importa?

Chega-se a um certo ponto – e o que foi não importa. Começa uma nova raça. Uma velha não pode comunicar-se. Recebeu o beijo gelado de sua filha que foi embora antes do trem partir. Ajudaraa antes a subir no vagão. Sem que neste houvesse um centro, ela se colocara do lado. Quando a locomotiva se pôs em movimento, surpreendeu-se um pouco: não esperava que o trem seguisse nessa direção e sentara-se de costas para o caminho.

Angela Pralini percebeu-lhe o movimento e perguntou:

– A senhora deseja trocar de lugar comigo?

Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza, disse que não, obrigada, para ela dava no mesmo. Mas parecia ter-se perturbado. Passou a mão sobre o camafeu filigranado de ouro, espetado no peito, passou a mão pelo broche. Seca. Ofendida? Perguntou afinal a Angela Pralini:

– É por causa de mim que a senhorita deseja trocar de lugar?

LISPECTOR, C. Onde estivestes de noite. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980 (fragmento).

A descoberta de experiências emocionais com base no cotidiano é recorrente na obra de Clarice Lispector. No fragmento, o narrador enfatiza o(a)

a) Comportamento vaidoso de mulheres de condição social privilegiada.

b) Anulação das diferenças sociais no espaço público de uma estação.

c) Incompatibilidade psicológica entre mulheres de gerações diferentes.

d) Constrangimento da aproximação formal de pessoas desconhecidas.

e) Sentimento de solidão alimentado pelo processo de envelhecimento

RESPOSTA

No texto, a frase “uma velha não pode comunicar-se” evidencia o sentimento de solidão alimentado pelo processo de envelhecimento, mesmo em companhia de outras pessoas. Resposta: E


QUESTÃO 09 (ENEM 2018)

O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás de casa.

Passou um homem e disse: Essa volta que o rio faz por trás de sua casa se chama enseada. Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás de casa.

Era uma enseada.

Acho que o nome empobreceu a imagem.

BARROS, M. Olivro das ignorãças. Rio de Janeiro: Best Seller, 2008.

O sujeito poético questiona o uso do vocábulo enseada” porque a

a) Terminologia mencionada é incorreta.

b) Nomeação minimiza a percepção subjetiva.

c) Palavra é aplicada a outro espaço geográfico.

d) Designação atribuída ao termo é desconhecida.

e) Definição modifica o significado do termo no dicionário.


RESPOSTA

O uso da terminologia “correta” e específica “enseada”, destitui o cenário admirado pelo eu lirico de beleza, graça, poesia “empobrecendo a imagem”. Trata-se de uma perda da impressão subjetiva sobre o espaço, característica típica de Manoel de Barros. Resposta: B

QUESTÃO 10 (ENEM 2018)

Eu sobrevivi do nada, do nada

Eu não existia

Não tinha uma existência

Não tinha uma matéria

Comecei existir com quinhentos milhões

e quinhentos mil anos

Logo de uma vez, já velha

Eu não nasci criança, nasci já velha

Depois é que eu virei criança

E agora continuei velha

Me transformei novamente numa velha

Voltei ao que eu era, uma velha

PATROCÍNIO, S. In: MOSÉ, V. (Org ). Reino dos bichos e dos animais é meu nome. Rio de Janeiro: Azougue, 2009.

Nesse poema de Stela do Patrocínio, a singularidade da expressão lírica manifesta-se na

a) Representação da infância, redimensionada no resgate da memória.

b) Associação de imagens desconexas, articuladas por uma fala delirante.

c) Expressão autobiográfica, fundada no relato de experiências de alteridade.

d) Incorporação de elementos fantásticos, explicitada por versos incoerentes

e) Transgressão à razão, ecoada na desconstrução de referências temporais.


RESPOSTA

A singularidade do poema apresenta-se a partir da desconstrução da expectativa de linearidade do tempo, as referências temporais são incongruentes e acompanham a transformação do Eu Lírico. Resposta: E

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