Haiti – 217 anos de revolução


Hoje, primeiro de janeiro é mais que o primeiro dia do ano, hoje é dia de comemorar a Independência do Haiti – revolução da população negra escravizada que teve exito em se libertar do colonialismo francês. O confronto entre negros e donos de escravos começou em 1791 devido a perseguições, torturas e extermínio dos negros escravizados, em 1804 o Haiti conquistou sua liberdade e se tornou o primeiro país independente das Américas.

Guiados pelas ideais iluministas de Liberdade, Igualdade e Fraternidade além de firmes em suas ações, os líderes do movimento ficaram conhecidos como Jacobinos Negros, em alusão ao grupo que comandou a Convenção Nacional, durante a Revolução Francesa, entre os anos de 1792 e 1795.

Toussaint Louverture


Em 1791, apoiando-se na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, o novo governo francês decidiu dar cidadania francesa para todo homem que fosse livre e proprietário, sem considerar a cor da pele, contudo em nada o governo avançou para abolir a escravidão.

Os franceses ocupavam a porção oeste da Ilha de Hispaniola enquanto os espanhóis, a parte leste. Ambas, porém, homenageavam o mesmo santo, mas cada um no seu idioma: Saint-Domingue para os franceses, Santo Domingo, para os espanhóis. Ambos colonizadores dizimaram a população nativa para explorar minas de ouro e produzir cana-de-açúcar, ambos empreendimentos utilizaram mão de obra escravizada. São Domingos era um oásis exponencialmente lucrativo para a burguesia marítima, responsável pelo tráfico negreiro, e para os produtores de açúcar.

Nenhum homem ou mulher escravizada aceitava a condição de bom grado, em creoule, dançavam e gritavam canções ameaçadoras, registra o escritor Cyril Lionel Robert James. “Ê! Ê! Bomba! Heu! Heu! Canga, bafio té! Canga, mauné de lé! Canga, do ki la! Canga, li!” A tradução seria algo como: “Juramos destruir os brancos e tudo o que possuem; que morramos se falharmos nesta promessa”. Assim como no Brasil pré-abolicionista, também havia no Haiti quilombos organizados nas montanhas para montar uma resistência contra a escravidão.

Batalha em San Domingo entre tropas polonesas a serviço da França e os rebeldes do Haiti / Crédito: January Suchodolski

Insatisfeitos com a falta de liberdade e com a crueldade a qual estavam submetidos, os negros destruíram plantações, expulsaram os colonizadores e mataram os que se recusaram a sair. Os negros, liderados por François Toussaint Breda, neto de um chefe africano, derrotaram os franceses e aliados. Mais tarde, François adotou o nome de Toussaint L’Ouverture (abertura, em francês) e se tornou o líder militar da revolução.

Em 22 de agosto de 1791, começa uma guerra civil. No ano seguinte, um terço da ilha estava sob o controle dos revolucionários e em 1793 é proclamado o fim da escravidão. Percebendo que não poderiam derrotá-lo, o governo francês decidiu abolir formalmente a escravidão na colônia em 1794. Contudo, com a ascensão de Napoleão Bonaparte, este decide restabelecer a escravidão nas colônias. Tendo em vista que Bonaparte precisava de dinheiro para financiar seus Exércitos e queria construir o Império francês na América.

A Constituição para Saint-Domingue foi assinada em 1801. Contudo, Napoleão enviou o general Charles Leclerc para restabelecer a escravidão e a lei francesa. Dos 40 mil homens que compunham o Exército francês, dois terços morreram de febre-amarela e os demais foram liquidados em combate. Comandados agora por Jacques Dessalines, em janeiro de 1804, Saint-Domingue foi declarado uma república independente e passou a usar o nome de indígena de Haiti.

A liberdade haitiana teve um alto preço: a agricultura ficou em colapso pelo longo período de guerra, em 1825, além disso, os governantes haitianos foram obrigados a reparar os proprietários de escravos, uma dívida, de 150 milhões (20 milhões de dólares) de francos, foi acordada em troca do reconhecimento da independência pelos franceses, o que só ocorreu em 1834. Ademais, os Estados Unidos boicotou o açúcar haitiano durante décadas e só reconheceu a independência da ilha em 1862.

Uma personagem que merece destaque nessa história é Bélair, soldada do exército de Toussaint Louverture, nascida alforriada e dentro de limitações recebeu educação formal e terras próprias. Em 1971, liderou uma rebelião de escravos em L’Artibonite. Dessalines, o líder da Revolução Haitiana, a descreveu como “tigresa”. Lutou bravamente contra o exército de Napoleão e foi presa em 1802, após destacar-se em batalhas importantes. Capturada pelas tropas francesas, Sanité foi condenada à decapitação enquanto seu marido, Charles Bélair, ao fuzilamento. Um relato escrito do ocorrido diz que a personagem insistiu em ser morta como soldada, ou seja, pelo esquadrão de fuzilamento. Mesmo perante a execução do companheiro se recusou a cobrir os olhos. Suas últimas palavras foram: Viva a liberdade, abaixo à escravidão! Sua morte inspirou revolucionários. Hoje é reconhecida como heroína pelo governo do Haiti. Em 2004, foi homenageada na nota de 10 da moeda do país (gourde) através da série comemorativa “Bicentenário do Haiti”.


REVOLUÇÃO NA FRANÇA

9/7/1789 – Nobreza, clero e burguesia (Estados gerais) discutem a crise
14/7/1789 – Queda da Bastilha, símbolo do absolutismo
26/8/1789 – Votação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
1792 – Após a convenção nacional, a monarquia é abolida
1793 – Rei Luís XVI é guilhotinado
1804 – Napoleão proclama-se imperador

NO HAITI

1791 – Início das primeiras rebeliões de escravos
3/9/1791 – Assembléia francesa decreta igualdade de direitos em São Domingos
1793 – O líder rebelde Toussaint L’Ouverture é nomeado general da República
1801 – São Domingos proclama uma Constituição e se torna província autônoma
1802 – Napoleão envia tropas para retomar o domínio da colônia
1804 – Dessalines proclama a independência do Haiti



Desde sua independência o Haiti vem sendo retaliado e sofrendo as consequências até hoje, boicotado por países ricos, o Haiti caiu no extremo empobrecimento, como cita Oswaldo Faustino, em matéria publicada no ano de 2010, na revista Raça Brasil:

“Boicotado pelos países ricos o Haiti cai no extremo empobrecimento. Em 1990, o padre progressista Jean-Bertrand Aristide, da Teologia da Libertação, é eleito presidente. Cinco meses depois, é deposto por golpe militar. Os EUA apoiam o golpe, mas lhe concedem asilo. Três anos depois, a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Organização das Nações Unidas (ONU) impõem novas sanções econômicas ao país”.

Para saber mais sobre a revolução haitiana:

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